terça-feira, 21 de julho de 2015

Viela florida em perigo.



JC - 21/07/2015 
Praça sem água pode ‘secar’ sonhos de Osmar Prefeitura, que paga a conta do local, cortou o abastecimento, alegando alto consumo
Cinthia Milanez


 
Viver em uma rua iluminada, segura e cercada de flores coloridas. O aposentando Osmar Antonio Godoy, 72 anos, que mora no Jardim Pagani, em Bauru, há 40 anos, conseguiu realizar os sonhos por conta própria. Sozinho, ele transformou uma viela suja e mal cuidada em um jardim com cerca de 25 variedades de plantas. Todavia, na semana passada, o projeto foi por água abaixo. Alegando alto consumo do líquido e necessidade de conter gastos, a prefeitura, que paga a conta do local, cortou o abastecimento (leia mais abaixo).

Com os olhos marejados, Osmar relembra como tudo começou. Em meados de 2010, o aposentado resolveu dar mais vida à quadra 1 da rua Maestro Oscar Mendes, onde havia uma viela praticamente abandonada. Diante disso, o morador solicitou que a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb) fizesse a limpeza do local. Depois de retirar quatro caminhões de 11 metros cúbicos de entulho, Osmar deu início à obra prima.

Antes, claro, o aposentado adotou a viela oficialmente. Passados sete meses de um trabalho árduo e diário junto à terra, o morador, finalmente, começou a colher os frutos de tanta dedicação. Entre 25 espécies diferentes de plantas, como arruda, crista de galo e até orquídeas, o idoso se orgulha do feito, cujo investimento para construção e manutenção já gira em torno de R$ 10 mil. Toda a quantia saiu do bolso de Osmar.

“Eu queria que a minha iniciativa servisse de exemplo aos outros moradores, já que o bairro conta com cerca de 20 vielas”, justifica. Embora o projeto não tenha surtido o efeito planejado, já que o espaço adotado pelo morador já foi alvo de furto e depredação por diversas vezes, algo mudou. Osmar descreve, com brilho nos olhos, que algumas vielas, mas não a maioria, estão sendo cuidadas pelos próprios moradores da área.

Terapia

Osmar foi diagnosticado com mal de Parkinson seis anos antes de dar início ao projeto de revitalização da viela abandonada. Por mais incrível que pareça, as mãos trêmulas não impediram o aposentado de dar início ao intento, que já acumula diversos prêmios e a inauguração do local contou, inclusive, com a presença do prefeito Rodrigo Agostinho (PMDB). Aliás, ele narra que o trabalho junto à terra até o ajudou a encarar a doença de forma mais leve e, de fato, aprender a conviver com a condição.

Todavia, o grande medo do morador é de perder tudo o que conquistou. Há uma semana, as plantas estão sem água. Embora a prefeitura alegue alto consumo do líquido, o “zelador” do jardim afirma que faz de tudo para economizar. Há um ano, ele desenvolveu um sistema de irrigação que, segundo ele, economiza água. “É a técnica de gotejamento. Uma mangueira grande acoplada à torneira vai até o fim da viela, já na quadra 2 da rua Luiz Bonetti, e ela desce, com os furos, para irrigar toda a área”, explica.

Osmar acrescenta ainda que não tem condições de bancar a conta d’água sozinho, como está previsto no contrato de adoção do local. “Desde o começo, eu havia combinado verbalmente com a prefeitura de que ela bancaria os gastos, mas agora voltou atrás”, revela. Questionada sobre o imbróglio, a assessoria de comunicação do município alega que, por contenção de despesas, a prefeitura realmente solicitou o corte do abastecimento em alguns pontos da cidade, onde o consumo ultrapassou a quantia de R$ 100,00.

No caso da viela adotada por Osmar, a assessoria informa que o valor do consumo chegou a R$ 1 mil em um único mês. Já a titular da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), Lázara Gazzetta, esclarece que a iniciativa visa conter gastos e, no caso da viela, a secretária garante que, após constatar os motivos do consumo elevado (não é descartada a hipótese de que outros moradores façam uso indevido do líquido), a água será restabelecida até, no máximo, semana que vem, porque o ponto é utilizado pelos moradores.
Para conter os gastos, Semma pediu o corte

De acordo com a titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), Lázara Gazzetta, a pasta resolveu conter gastos e solicitou o corte no abastecimento d’água em três pontos da cidade que ela pagava a conta, incluindo a viela do Jardim Pagani, que teria gerado despesa de cerca de R$ 1 mil só no mês passado. Outro ponto afetado pela contenção de gastos da Semma é uma praça, que fica entre as ruas Júlio Maringoni e Monsenhor Claro, na região do Altos da Cidade. “É uma praça só com grama e algumas árvores, mas há visitação do público”, justifica.

Além disso, Lázara acrescenta que o valor da conta d’água do local era, em média, R$ 500,00 mensais. Outro espaço aparentemente sem uso e que teve o abastecimento d’água interrompido fica entre o viaduto das avenidas Duque de Caxias e Nações Unidas, na região central, que também tinha um gasto médio de R$ 500,00. “Nós desligamos visando cortar custos desnecessários à prefeitura e racionar um recurso tão escasso na cidade e no restante do mundo”, finaliza.


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