segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Novo Jardim Pagani reage e salva vielas

Matéria publicada no jornal Bom dia Bauru, em 22 de agosto de 2010

Bairro reage e salva vielas

Moradores que cuidam da marca registrada do Novo Jardim Pagani viram exemplo para recuperação das passagens 

Marlene beija flor de árvore que plantou no jardim que cuida há 20 anos,em viela do Novo Jardim Pagani: atitude é exemplo para melhorar o bairro

Cristina Camargo
Agência BOM DIA


Quando pensa na morte, Marlene Estevanato, 67, sente um medo: o abandono da viela que adotou informalmente há 20 anos, no Novo Jardim Pagani.

“Nunca vou abandonar, de jeito nenhum. Minha preocupação é morrer. Quem vai cuidar? Meus filhos estão encaminhados, mas e o jardim?”

O bairro tem as vielas como uma das suas principais características. Elas cortam os extensos quarteirões por exigência da legislação, obedecida pelo loteador da área.  Facilitam o trânsito de pedestres e dão um ar peculiar ao Novo Pagani. 

A solução legal, no entanto, virou problema. Apenas quatro das 18 vielas são bem cuidadas e servem à comunidade. Outras três foram ocupadas irregularmente. Os proprietários receberam notificação para regularizar a situação. As demais sempre foram abandonadas e precisam passar por processo de urbanização.

O espaço adotado pela moradora, um dos poucos bem cuidados, tem árvores, flores e caminho sem buracos. É limpo e já tem iluminação pública - recebeu o poste antes das outras vielas numa consideração ao trabalho de Marlene.

“Varro duas vezes por dia. E tem um jardineiro que me ajuda”, conta.
Nos 15 anos em que o marido ficou doente, sob seus cuidados, cuidar e passear pelo local era a única distração da mulher.

No início, quando plantava as árvores e flores, era comum acordar de manhã e ver o local cheio de entulho. Marlene preferia não reclamar. Tirava tudo, deixava o jardim limpo de novo, sempre com paciência. Até que pararam de jogar lixo.

“A mentalidade mudou”, comemora. As flores, que a cuidadora até beija, agradecem.

Exemplo
 

A atitude dela é apontada pela diretoria da Associação de Moradores do bairro como exemplar.
Empossados em janeiro deste ano, os diretores trabalham para que a prefeitura urbanize as vielas abandonadas há muito tempo.

Depois disso, os moradores assumiriam a manutenção cotidiana.

O primeiro passo já foi dado. Funcionários da Emdurb estiveram no bairro e limparam as vielas que estavam com mato alto e sujeira. A iluminação de todos os espaços já foi prometida.

Inspirado pelos novos ares no bairro, Osmar de Godoy, 67, vice-presidente da associação, assumiu os cuidados com a viela vizinha da casa em que vive.

O morador transformou o espaço num caminho bonito e lúdico. Uma empresa que tem sede no bairro doou a grama para os jardins. Da prefeitura vieram diversas mudas de árvores e flores. Para arrematar, Osmar comprou quase mil garrafas pets de catadores de lixo reciclável, encheu-as de água colorida e decorou os canteiros.

“Minha intenção não é aparecer, me mostrar e sim fazer para a população poder usar”, diz.
Segundo ele, antes da reforma voluntária era até perigoso passar pelo local, mesmo durante o dia, por causa do matagal.

A transformação da viela, antes suja e intransitável, agora colorida e bonita, foi documentada pela Associação de Moradores.

As fotos confirmam: nem parece o mesmo lugar.

Blog informa e ajuda na mobilização

Aposentado há três anos, Antonio Morales de Camargo, 61, ex-diretor do Senac, agora tem tempo para participar dos trabalhos comunitários. Ele é primeiro secretário da Associação de Moradores e responsável pelo blog [ http://novojardimpagani.blogspot.com ] em que todas as ações são divulgadas.

Nas reuniões, são cadastrados e-mails dos moradores, que depois recebem os links dos novos textos. Já são 300 endereços eletrônicos registrados e abastecidos.

“Além do que, temos uma gestão transparente”, diz.

Todos os diretores moram no bairro há mais de 20 anos. Estão unidos numa reivindicação que já motivou duas reuniões com o prefeito Rodrigo Agostinho e várias conversas com vereadores: a manutenção da característica residencial.

É que a prefeitura planeja instalar um minidistrito industrial na entrada, em área de 6.800 metros quadrados.

A associação é contra e levou à prefeitura uma lista de alternativas: construção de  escola municipal, condomínio vertical, hotel, supermercado ou até mesmo academia ao ar livre.

A poluição, o aumento do trânsito de veículos pesados, a degradação do asfalto e a suposta incompatibilidade entre uma área de lazer e esportes [o estádio Edmundo Coube] e as indústrias são as principais razões da mobilização. Os moradores não aceitam o argumento de que a área foi desapropriada para instalação de indústrias.

“Conversamos com vereadores e eles disseram que podem mudar a destinação, com base em projeto do prefeito”, diz o presidente da associação, Adalgizo Ferreira.

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